domingo, 27 de abril de 2008

Das selvagens cadeias de pensamento...

Esse blog terá, de princípio, textos antigos. Aí vou mentindo essa própria idéia e harmonizando com possíveis-novas-coisas-que-acaso-possa-ir-criando.

Esse texto que segue foi escrito para o Pois É (jornal de São Leopoldo-RS) tempos atrás. Gosto bastante dele e de seu gosto de apresentação. Enfim...



Das selvagens cadeias de pensamento.

Você deve lembrar disso: algo que não queria ver/ler/ouvir, mas não conseguia parar. Atente para esse zumbido que faz a cabeça voltar-se além da vontade, são as máquinas das percepção-para-apreensão voltando a trabalhar. Estamos acostumados ao que nos agrada (e quem pode culpar-nos por um pouco de harmonia?), mas freqüentemente o que nos agrada é o que conhecemos, aquilo onde/”em que” sentimos segurança. Mas não estamos sempre seguros. Essa concepção de presa (das devoráveis), da espera, algo eternamente a surpreender...inevitavelmente eis que alguma presa (das afiadas) há de dilacerar a realidade macia.
Cuidado, porém. Por vezes confiamos demais em um maxilar forte e uma visão por demais focada (apenas outra segurança, apenas não-tão-macia). Ao devorar tudo sobra o vazio, um destes predadores-de-predadores que (injustiça!) possui visão ampla e tem como tática cercar a consciência de nada...deixá-la presa (das que obstruem seja-o-que-for-liberdade) em si mesma.
Tornar informação em conhecimento tem mais a ver com sobrevivência que simpatia: uma mandíbula potente (na consciência) para digerir argumentos e uma visão periférica aguçada (no raciocínio) para perceber indiretas furtivas. Adaptar-se para saltar temas, para farejar subjetividades a quilômetros de distância...há quem diga que mimetismos camaleônicos de personalidade são anti-éticos ou imorais, mas isto é discutível (Bowie há de nos provar algo).
Viver é “percepção -> apreensão + conhecimento”, e obviamente é também mais que isso. É canibalizar o passado (já que tudo é passado daqui a pouco); é a inexistência da plena segurança, pois a plena segurança prescinde o aprendizado posterior...mas tudo a seu tempo.
Este é um bem-vindo. Não necessariamente agradável, mas certamente há possibilidades de reavaliação para questões-base: Como (e quanto) tem passado, como (e quanto) tem (sobre)vivido. Boa leitura.

Então...

Dia 'menos cento-e-alguma-coisa'.

Espera tuas mãos
não agora mas serão
par de linhas-guia
não a lança
nem a garra
adias
que o tempo entende
em posterior, depende
rei de tuas mãos, agora não.


Miss 1 ou "Paradoxo da extração das asas"

Eu não vou...
Ceder o peso nas pernas
se tenho tempo, mas certas
ranhuras demoram,
as fundas (que choram
em vão). Sou além tão logo regressar.
E não vou...também não posso te levar.


23

Tenho sonhos, bem dizer todos,
nem precisei de precisão.
Tenho meu interno em fissão,
trago na mente meus esboços.

Sei, tudo fiz do mais quebrável,
morrer, renascer sem aviso,
distorcer, reinverter o ciclo...
tornar solidão trilha viável.

Luz. Primeiro passo à calçada,
em esperança quase vã:
”Ah, vil Estrela-da-manhã,
me leva de volta pra casa.”

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Então, não me aguentei.
Fica como uma reestruturação do que se pode chamar de trajetória.